sábado, 23 de fevereiro de 2008

A perda da infância

O menino Jackson Assis Resende, de 13 anos, sofria com seu padrasto. Além de ver a mãe apanhar quase todos os dias, o garoto ainda era obrigado a exercer as funções domésticas em casa. Durante a entrevista mostrou-se tímido, calado, parecia ter medo de contar sua história e demorou a dar um sorriso.

Muitos não sabem, mas, além de ser proibido por lei, o trabalho doméstico pode ocasionar uma variedade de impactos nas crianças. Alguns claramente visíveis outros, que se escondem dos olhos dos outros. Os visíveis são seqüelas, como problemas de coluna por ter que carregar excesso de peso; riscos de intoxicação por ter contato direto com produtos químicos; riscos de acidentes por ter acesso a facas e ao fogo na cozinha; ou até quando ocorre espancamento. Os impactos não visíveis são os efeitos psicológicos.

- Os danos mentais ou psicológicos provocados às crianças e adolescentes exploradas no trabalho são conseqüências de anos de desapropriação das etapas essenciais para seu desenvolvimento pleno, ocasionando-lhes sofrimento, sentimentos de abandono e de indiferença, baixa auto-estima, perda de referência identitária. Todas as crianças precisam de carinho, proteção, segurança, e para obterem esses valores, devem conviver com pessoas que cuidem delas para garantir seu equilíbrio mental e para formação de sua responsabilidade - afirma a psicóloga Liliane Neves.

A sociedade desconhece a dimensão da gravidade da exploração de crianças e não tem noção do que o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) oferece para as crianças e adolescentes brasileiros. Há quem acredite ser o trabalho a solução de problemas para crianças e jovens, mas somente se são pobres. Ainda é muito difícil sensibilizar as pessoas para mostrar que o que se pensa ser solução, possa ser o verdadeiro problema.


Nidiane Araújo

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