“Felicidade é a gente poder olhar para trás e encontrar esse vago mundo em 'sol menor' que se chama infância. Adivinhação da vida. Bem sei que, com muita gente, acontece essa coisa estranha: torna-se adulto sem ter sido criança. Ou, o que é pior: ter sido criança sem ter tido infância. A infância, para mim, não é apenas e simplesmente uma idade, mas justamente aquele mundo de pequeninas coisas que tornam inconfundível na lembrança um tempo de alegria, um tempo em que conhecemos a felicidade sem ao menos nos apercebermos dela”.
José Guilherme de Araujo Jorge
Eles iniciam ganhando pouco, às vezes um prato de comida. Como não têm tempo para os estudos, não vêem muita esperança no futuro. As condições de trabalho são inadequadas, muitas vezes cruéis, e não oferecem os estímulos necessários para o desenvolvimento físico e mental. Apresentam deformações corporais e traumas emocionais. Têm maior facilidade de se lesionar e adquirir doenças relacionadas ao trabalho. Exercem tarefas que vão desde o serviço doméstico até catar lixo nas ruas. São apenas crianças, mas já não brincam, seu tempo é tomado pelo trabalho, o cansaço e a fadiga.
O Brasil tem o trabalho infantil marcando sua história desde o início. Em seu livro O Trabalho das Crianças e dos Adolescentes Haim Grunspun analisa que as crianças sempre foram exploradas, tanto as que nasciam filhas de escravos como as órfãs e pobres que eram levadas para as fazendas e casas dos senhores. Essas crianças eram mais exploradas e abusadas que as escravas, pois não valiam dinheiro.
Como o Brasil foi um dos últimos países a acabar com o sistema escravocrata, traços desse período ainda se refletem na sociedade atual, conta Fernanda da Silva Lima no artigo A História da Criança Negra nas Primeiras Décadas do Século XIX. Com a abolição da escravatura os negros ganharam a liberdade, mas não tinham como sustentar a si e às suas famílias. Além disso, algumas crianças, separadas dos pais quando nasceram, ficaram no mundo sem amparo. Submetidas a todo tipo de servidão, estão na origem de um círculo vicioso, em que se encadeiam gerações de crianças vítimas do trabalho semi-escravo e da exploração sexual.
Grunspun também analisa as conseqüências da revolução industrial, quando crianças e mulheres passaram a ser a base produtiva do sistema que introduziu a exploração e o assalariamento. A revolução mecanizou o trabalho humano e tornou a força muscular desnecessária. O que se procurava agora eram mãos flexíveis, ágeis e delicadas. "A experiência da escravidão havia demonstrado que a criança era mão-de-obra mais dócil, mais barata e com maior facilidade de adaptação ao trabalho", afirma.
Por isso, no fim do século 19, com a indústria iniciando no Brasil - em especial a têxtil - começaram a ser empregadas crianças a partir dos oito anos de idade para trabalhar nas oficinas e fábricas. A inclusão da mulher no mercado de trabalho também tem sua responsabilidade nessa história. O serviço forçou as mães a deixarem seus filhos em casa. Muitas dessas crianças passaram a se ocupar dos afazeres domésticos, além de terem os irmãos sob sua responsabilidade. A exaustão física, emocional e mental na infância foi, e ainda é, uma das razões da evasão escolar, consentida pelos pais por ser mais útil para a família.
Complexas e diversificadas, as causas e as conseqüências do trabalho infantil não podem ser vistas de forma generalizada ou isolada dos seus contextos. Depois de tantas décadas de negligência social, leis, instituições e programas tentam romper o círculo da exploração infantil e dar outro final a essa história de fantasmas, bruxas e bicho papão.
Mas resgatar o direito à infância e ao lúdico não é tarefa fácil quando a relação com o dinheiro e o peso da responsabilidade entram cedo demais na vida dessas crianças. Segundo Patrícia Smaniotto, no artigo Em busca da infância perdida, impedir o desaparecimento da infância é uma tarefa gigantesca, que não pode estar apenas nas mãos de apenas alguns indivíduos e organizações. "Pela magnitude do problema, essa tarefa deve ser um dever e um direito de todos os cidadãos brasileiros", convoca.
O Brasil tem o trabalho infantil marcando sua história desde o início. Em seu livro O Trabalho das Crianças e dos Adolescentes Haim Grunspun analisa que as crianças sempre foram exploradas, tanto as que nasciam filhas de escravos como as órfãs e pobres que eram levadas para as fazendas e casas dos senhores. Essas crianças eram mais exploradas e abusadas que as escravas, pois não valiam dinheiro.
Como o Brasil foi um dos últimos países a acabar com o sistema escravocrata, traços desse período ainda se refletem na sociedade atual, conta Fernanda da Silva Lima no artigo A História da Criança Negra nas Primeiras Décadas do Século XIX. Com a abolição da escravatura os negros ganharam a liberdade, mas não tinham como sustentar a si e às suas famílias. Além disso, algumas crianças, separadas dos pais quando nasceram, ficaram no mundo sem amparo. Submetidas a todo tipo de servidão, estão na origem de um círculo vicioso, em que se encadeiam gerações de crianças vítimas do trabalho semi-escravo e da exploração sexual.
Grunspun também analisa as conseqüências da revolução industrial, quando crianças e mulheres passaram a ser a base produtiva do sistema que introduziu a exploração e o assalariamento. A revolução mecanizou o trabalho humano e tornou a força muscular desnecessária. O que se procurava agora eram mãos flexíveis, ágeis e delicadas. "A experiência da escravidão havia demonstrado que a criança era mão-de-obra mais dócil, mais barata e com maior facilidade de adaptação ao trabalho", afirma.
Por isso, no fim do século 19, com a indústria iniciando no Brasil - em especial a têxtil - começaram a ser empregadas crianças a partir dos oito anos de idade para trabalhar nas oficinas e fábricas. A inclusão da mulher no mercado de trabalho também tem sua responsabilidade nessa história. O serviço forçou as mães a deixarem seus filhos em casa. Muitas dessas crianças passaram a se ocupar dos afazeres domésticos, além de terem os irmãos sob sua responsabilidade. A exaustão física, emocional e mental na infância foi, e ainda é, uma das razões da evasão escolar, consentida pelos pais por ser mais útil para a família.
Complexas e diversificadas, as causas e as conseqüências do trabalho infantil não podem ser vistas de forma generalizada ou isolada dos seus contextos. Depois de tantas décadas de negligência social, leis, instituições e programas tentam romper o círculo da exploração infantil e dar outro final a essa história de fantasmas, bruxas e bicho papão.
Mas resgatar o direito à infância e ao lúdico não é tarefa fácil quando a relação com o dinheiro e o peso da responsabilidade entram cedo demais na vida dessas crianças. Segundo Patrícia Smaniotto, no artigo Em busca da infância perdida, impedir o desaparecimento da infância é uma tarefa gigantesca, que não pode estar apenas nas mãos de apenas alguns indivíduos e organizações. "Pela magnitude do problema, essa tarefa deve ser um dever e um direito de todos os cidadãos brasileiros", convoca.
Camila Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário