quarta-feira, 2 de julho de 2008

O caminho inverso

"A liberdade nos leva há encontros inesperados".

Quadros e frases de otimismo fazem parte da decoração.


Era começo da noite mais fria do ano, os termômetros registravam 7º às 19 horas do dia 16 de junho de 2008. A fim de atravessar a barreira da universidade e literalmente encararmos as pessoas e não as máquinas estáticas, decidimos fazer uma visita ao centro de reabilitação para dependentes químicos de Palhoça. Partíamos com o intuito de conhecer os caminhos que levam as pessoas até as drogas.


O motorista cedido pela universidade já estava nos esperando, quando a professora fez a “chamada”. Quatro alunos estavam presentes, os outros iriam com o seu próprio carro e ainda quem não se dispunha a ir alegando não gostar desse tipo de ambiente. Esse comentário, aliás, virou motivo de gozação entre os alunos presentes: “Que futuro jornalista é esse que se dá ao luxo de escolher a pauta?”. Da universidade até o local fomos trocando idéia sobre o tema. Os quatro acadêmicos já pensavam em suas pautas: um falaria sobre a estrutura do local, outro sobre a rotina na visão dos dependentes, outra sobre a religião e por aí foi.


Eu não conseguia pensar no assunto que iria abordar. Fiquei então contemplando a lua que estava divinamente linda, cercada por um céu extremamente limpo. E, para completar a minha admiração, enquanto nos aproximávamos do local consegui ver o mar que brilhava por conta do reflexo da lua. Em meio a toda essa nostalgia me dei conta que pegamos o atalho errado e estávamos perdidos. Só achamos o caminho depois de perguntar ao pessoal da borracharia. Por fim, estávamos agora de fato na direção certa e comecei a pensar na minha pauta, mas nada vinha à minha cabeça.


Ao nos aproximarmos da casa pude observar que era grande, de dois pavimentos e parecida com uma casa de campo, de alvenaria, pintada de branco com acabamento em madeira no alto do morro. Cercada pela mata preservada, a casa tem vista para Florianópolis e o mar da Enseada de Brito. Brita branca no chão e grandes palmeiras contornam o quintal. Em outra casa ao lado direito, fica a parte administrativa onde trabalham os funcionários do centro.


Na parte inferior, há um grande refeitório com mesas grandes e ao centro um balcão. Nesse local as paredes são decoradas com frases de otimismo: “Viver é perseverar o caminho e a liberdade nos leva há encontros inesperados”. Subindo as escadas é possível ver, ao centro, uma sala com cadeiras de madeira e ao fundo uma tela de projeção local onde os internos se encontram no final da noite para fazer suas orações e louvar a Deus. Nesse mesmo local estão os dormitórios do lado direito e esquerdo.


A linguagem do centro é a espiritual. Jovens e adultos se apóiam na religião para fazer com que jovens e adultos se libertem do uso de entorpecentes. O depoimento de um interno reflete bem o papel religioso que o Cerene ocupa na vida daqueles homens: “Muitas coisas que passaram em minha vida, hoje eu consigo ver que Deus estava do meu lado. Com várias clínicas no Estado vim parar justo aqui, onde estou aprendendo a palavra de Deus e já li duas vezes o novo testamento”.


Ao final da cerimônia religiosa nos despedimos dos internos e no retorno para a universidade o frio era mais forte. Pensava no caminho inverso pelo qual cada um daqueles homens buscava a saída para se libertar das drogas e voltar para suas famílias, para a sociedade.

Viviane Ferreira.