Quando a droga comanda o corpo o indivíduo vê a necessidade de pedir ajuda. A partir daí, se formam exemplos de força e obstinação na busca do seus próprios objetivos. E fazem questão de assumir esse papel na sociedade.
Problemas familiares, desilusões com a vida, más companhias e frustrações são alguns dos motivos que levam as pessoas a procurar as drogas como válvula de escape. E percebendo que esse caminho não agrega nenhum benefício, decidem fazer o retorno de volta à vida. Mas agora toda a ajuda para esse retorno é necessária, e é esse auxilio que ex-dependentes encontram no CERENE – Centro de Recuperação Nova Esperança que fica no morro Cambirela em Palhoça.
Foi lá que conheci Murilo e sua incomum história. Ao contrário de muitos, Murilo teve uma infância normal e tranqüila. Jovem de apenas 19 anos que está na segunda tentativa de largar o vício, sempre estudou em colégios particulares. Como ele mesmo conta, era um menino estudioso e freqüentava a igreja duas vezes por semana, hábito adquirido após os dois anos de catequese.
Sua vida começou a mudar quando esses hábitos começaram a ser deixados de lado. Aos 14 anos, já freqüentando o segundo grau, Murilo começou a freqüentar as festinhas realizadas pela turma do colégio. As bebidas eram apenas detalhes de uma vida social comum atualmente. Nesse mesmo ano a curiosidade e a vontade de sentir novas sensações, aliadas ao que Murilo chama de amizades ruins, o fizeram experimentar algo mais forte. "Minha bebedeira já era uma rotina e um amigo me apresentou à cocaína. Usei com 14 anos, mas não gostei", relata Murilo.
No ano seguinte, a situação foi se tornando cada vez pior. Após um período sem cheirar cocaína, com 15 anos ele se rendeu novamente a droga que era cada vez mais freqüente. O salário de aproximadamente R$ 1.200,00 já não sustentava seu vício. A família se desestruturou, os relacionamentos amorosos acabaram e depois de sofrer um acidente de moto, seu único orgulho era o de nunca ter faltado ao trabalho por causa da droga. Foi nesse momento em que Murilo resolveu se internar no CERENE.
Hoje, ele garante que quer mudar, não só em relação às drogas, mas a seu modo de agir. A espiritualidade tornou-se sua principal força para vencer o vício. "Aqui reencontrei Deus e ele já fez várias coisas na minha vida. Me deu a confiança de meus pais, da minha namorada e me fez descobrir um dom, que é o de tocar violão", declara entusiasmado. Murilo está há quatro messes se reabilitando e buscando na fé e na música suas forças para tornar o vício uma triste lembrança do passado.
Seu parceiro musical, Paco, empolgado com a conversa, nos alerta que a dependência química deveria ser um assunto tratado com muito mais seriedade e respeito. Abraçado com seu saxofone, o músico de São Paulo nos lembra de grandes nomes da arte que eram viciados em drogas como a lenda do jazz norte-americano, o trompetista Miles Davis, que era viciado em heroína. Esses mitos são tratados como deuses pela mídia. A mesma mídia que pouco aborda as questões do problema que o vício foi na vida desses artistas. A marginalização de ex-dependentes também é um assunto que, para Paco, deveria ser mais discutido.
Mais do que assumir as conseqüências do vício, pedir ajuda e fazer o tratamento, essas pessoas querem servir de exemplo para quem acredita que a droga é só um "barato legal". Murilo assume essa postura com orgulho e quando questionado sobre o que dizer à sociedade, apela: "Se você tem um filho e não quer ver ele sofrer como eu sofri nos meus quatro anos de dependência, vou dar uma dica: não o deixem andar com pessoas erradas e em lugares errados". Tanto Paco quanto Murilo tocam músicas evangélicas em todas as reuniões dos adictos do CERENE e a emoção é a principal característica das canções.
Miguel Jr.
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