quarta-feira, 2 de julho de 2008

A busca por uma nova vida

Jovens recebem buscam em centros de recuperação e apoio da família para libertar-se das drogas.


Muitos que se diziam amigos freqüentavam meu apartamento e levavam as drogas. Eu me droguei tanto que não agüentei mais e pedi ajuda para a minha mãe. Eu precisava viajar, sair desse universo”.


Everton tem 28 anos e mostrou coragem e valentia ao levantar de uma cadeira no meio de aproximadamente 35 pessoas e dar seu depoimento. Naquela noite fria de 16 de junho Everton contou a história de um jovem que sofreu e ainda sofre os horrores da droga. Quando se sentou em frente aos colegas e começou a falar sobre o início de tudo foi possível observar em seus um ar de confiança, um ar de quem estava disposto a mudar de vida.


Everton sempre foi um aluno esforçado e dedicado aos estudos. Infelizmente, aos 12 anos, como muitos adolescentes, experimentou o que era cigarro e, logo adiante, com 13, o que era maconha.


Com Everton foi assim, apesar de sempre conseguir se destacar profissionalmente, a droga o acompanhou em quase todos os momentos. Ainda enquanto estudante de mecânica em nível técnico, experimentou cocaína e haxixe. Para garantir os entorpecentes, estagiava em uma empresa que, posteriormente o contratou. O pouco que conseguiu guardar foi o suficiente para se drogar durante um determinado tempo. “Nesse período, eu abusei da cocaína”, salienta Everton.


Os problemas não demoraram a chegar, antes mesmo que ele percebesse, já estava faltando ao trabalho e começando a prejudicar seu relacionamento familiar com a mãe, que sabia apenas do uso que o filho fazia da maconha e não da cocaína. “Um dia minha mãe abriu a gaveta do meu armário e eu havia esquecido uma ‘buchinha’ de cocaína. Aquilo fez com que eu me sentisse muito mal e acabei saindo de casa”.


A saída de Everton foi a abertura para que novas drogas cruzassem seu caminho. Agora, morando sozinho e em más companhias não demoraria muito para que ele começasse a sentir os efeitos dos entorpecentes. “Muitos que se diziam amigos freqüentavam meu apartamento e levavam as drogas. Eu me droguei tanto que não agüentei mais e pedi ajuda para a minha mãe. Eu precisava viajar sair desse universo”.


Depois de duas semanas viajando, Everton estava de volta e usando drogas outra vez. Foi então que resolveu sair da empresa onde estava trabalhando e ir morar com o tio que pertencia a uma igreja cristã. Ficou onze meses “limpo”, sem fazer uso de entorpecentes, entretanto, assim que voltou a sair, começou a fazer uso do craque. “Senti que estava atrapalhando o meu tio e fui para Curitiba. Lá consegui um trabalho onde fiquei três meses. O dinheiro que ganhei nesse período foi todo gasto em uma noite com ácidos, LSD entre outros. Depois disso, fui para uma praia deserta e fiquei por lá uns três dias; só então voltei para Curitiba”.


Apesar de levar uma vida acompanhada pelas drogas, Everton sempre teve sorte com trabalhos. Após retornar dos seus dias de solidão da praia deserta, foi trabalhar em uma empresa que ficava um pouco afastada do Centro de Curitiba. A distância e o engarrafamento diário fizeram mudar para uma região mais próxima ao local de trabalho. “Esse lugar era pouco movimentado, como um bairro isolado. Foi o momento em que eu me acabei no craque.”


As idas e vindas de Everton com as drogas só terminaram quando retornou “a casa dos pais”. Passou a trabalhar com os negócios da família e conseguiu se manter dois meses sem se drogar. No momento em que coisas pareciam se endireitar, Everton, que estava sem muito dinheiro, apenas com aquilo que recebia do pai, passou a roubá-lo para comprar droga.


Foi então que Everton resolveu buscar ajuda no Cerene, Centro de Recuperação Nova Esperança. Conversou com sua mãe e estava convencido de que não eram viagens, mudanças, amigos ou trabalhos que lhe proporcionariam o afastamento das drogas.


Ao integrar os programas do Cerene descobriu que o principal objetivo é a mudança no comportamento e a qualidade de vida dos dependentes e seus familiares. O tratamento dura em torno de seis meses e as pessoas que integram os grupos passam por diversas fazes, conforme as necessidades de cada um. Os primeiros momentos no centro permitem ao interno que este fique tranqüilo, passando a ouvir e falar quando sentir-se a vontade.


Para quem integra o Centro o dia começa às sete da manhã e vai até as nove e meia da noite com praticas esportivas, educacionais, aconselhamentos, palestras, terapia em grupo, terapia individual, além de cantos e leituras espirituais, além das trocas de experiências de vida entre os colegas.


Everton não é o único a contar histórias que emocionam, ensinam, ou que sirvam de exemplo. No Cerene as histórias se repetem e o que muda são os personagens que, ora perdem as famílias, ora o trabalho ou a dignidade do convívio social. Algumas delas buscam, hoje, edificar em centros de recuperação uma vida com dignidade, destruída pelo álcool ou pelos entorpecentes.


O Centro de Recuperação Nova Esperança desperta uma nova consciência para aqueles que sabem, mas dificilmente conseguem manter essas afirmações presentes em suas vidas: “Nós não podemos usar de vez em quando, porque não conseguimos manter o nosso controle sobre as coisas ”; “Todo dependente precisa buscar um grupo de apoio”; “Eu tenho que procurar o resto da minha vida o NA, eu já fui pra cadeia, sei que não posso beber, pois perco o controle quando bebo”.


Entretanto, também é possível ouvir frases como: “Deus pode suprir essas falta que a droga dá”; “A droga só me destruiu”; “Hoje eu tenho paz”.


O apoio de uma organização como o Cerene em conjunto com a vontade de superação dos internos, bem como o auxílio das famílias ou de voluntários traz novamente a esperança de reintegração social, restabelecimento emocional e psicológico, dando uma nova perspectiva para os desacreditados em uma vida plena, sublime e serena.


Raquel Pallas

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