Qual é a dose certa de mostrar
a violência como parte da sociedade
e como ela é apresentada?
O juiz da Vara da Infância e da Juventude da comarca de Joinville, Alexandre Morais da Rosa, além de proibir a entrada de menores nas salas, ordenou que fossem multados os cinemas que não cumprissem com o pedido em 500 reais para cada menor dentro das sessões. O argumento foi simples: "Não percebemos, mas as mensagens que são transmitidas em determinadas partes do filme influenciam e condicionam a criança a determinado comportamento", justifica Rosa.
Produzido e adequado para crianças de no mínimo 10 anos, Madagascar é apontado como um desenho que contém mensagens que induzem o público-alvo a certa conduta. Essas mensagens preocupam os especialistas nas relações entre cinema infantil e infância à medida que alegam não existir mais controle da dose de violência no cinema.
Na opinião de Gerard Jones, escritor e crítico dos EUA, o cinema voltado para o público jovem, próximo da puberdade, deve sim conter certa medida de agressão. "Para os adolescentes e crianças, certa dose de violência funciona como um rito de passagem", afirma Jones. Ele concorda, porém, que as mídias para crianças têm que abrir mão do modo como usam a agressão, pensando em uma forma de marketing e não em uma forma didática. Jones é autor do livro Brincando de matar monstros: Porque as crianças precisam de fantasia, videogames e violência de faz de conta, onde o autor cita exemplos concretos e conta experiências pessoais para analisar os efeitos da mídia nas crianças, para saber mais, leia o box no final da matéria.
Saber usar os meios de comunicação de massa tornou-se um imperativo da sociedade atual. Por exemplo, se a violência não estivesse presente nos veículos de mídia, a sociedade cresceria desacreditada e inocente da existência desse problema. Podemos tomar como referência para um uso pedagógico da representação da violência o desenhista de mangá Riusuke Hamamoto, que afirma: "No mangá (arte oriental voltada para crianças) a morte é tratada como parte da vida, sem muitas voltas. A criança aprende que a morte é uma coisa normal no mundo, assim como a violência. No anime (mangá animado) a agressão e a brutalidade aparecem não para instigar comportamentos violentos, e sim, para preparar a criança a lidar com um componente humano que existe e não pode ser escondido". Hamamoto registrou sua opinião no livro História do Japão - Origem, Desenvolvimento e Tradição de um País Milenar, onde conta que os desenhos orientais têm como tema fundamental a vida e tudo que há nela, geralmente partindo de uma ficção, demonstrando que desde pequenos todos precisam fazer escolhas e ter o controle de certas coisas, como diferenciar o certo do errado.
Desde pequenos todos têm a necessidade de saber sobre os dramas da vida cotidiana e para que esse aprendizado ocorra com embasamento e equilíbrio, o ser humano não pode se desligar do que acontece na sociedade. No desenho "Madagascar", o uso de uma ferramenta de marketing tem a pretensão de condicionar o público a determinado comportamento, sendo assim censurado. Mas se a mesma ferramenta estivesse sendo utilizada de uma forma didática, a repreensão não seria a melhor escolha. Nesse contexto o ditado "a diferença entre o remédio e o veneno é a dose", faz todo sentido.
O papel da violência
As crianças escolhem hoje seus heróis com mais cuidado do que imaginamos.De Pokémon até o rapper Eminen, os ícones da cultura pop não são apenas peças num jogo encarregado de praticar hipnose em massa na juventude.
Em vez de desqualificar o papel dos super heróis e do videogame, Gerard Jones convida em seu livro pais, professores e todos aqueles que se preocupam com as próximas gerações a tentar entender o enorme apelo dessas formas de entretenimento e a grande ajuda que podem proporcionar ao desenvolvimento infantil, de um modo saudável. Gerard Jones se expressa de modo incomparável para apresentar os bastidores da indústria do entretenimento, o gosto das crianças e adolescentes e o papel da violência no imaginário moderno.
Ricardo Antonio Pitorini
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