Maria Eduarda Bueno, seis anos, mora com os avós paternos e o que mais gosta de fazer é brincar. Quando questionada sobre qual o seu maior sonho ela responde: "Não quero casar, quero dançar, trabalhar e também estudar para ser igual a elas". Ela se refere às tias, irmãs da avó paterna que trabalham, estudam e são solteiras. A pequena Maria Eduarda não quer saber de casamento. A avó acredita que esse sentimento de rejeição ao matrimônio se explique pelo fato de presenciar as agressões físicas e verbais do pai contra a mãe.
Numa sociedade já violenta, os pais que deveriam dar exemplo, acabam formando as crianças em situação de conflito. Além do convívio com pais estressados e violentos, que pouco acompanham a vida escolar, professores mal-qualificados e escolas sem infra-estrutura podem se refletir no comportamento da criança em fase de formação. Contra esse ambiente hostil "é preciso instituir uma cultura de paz", adverte a cientista social, especialista em educação, Beatriz de Basto Teixeira. A escola, segundo ela, deve ir além do conhecimento formal das disciplinas. "A educação que a família dá nos primeiros anos é essencial, mas a escola pode e deve ser um instrumento para difundir a mentalidade de recriminação da violência como meio de resolver conflitos".
Apesar de todo o apelo para mudar a cara da educação tanto no Brasil como no mundo, um estudo da Organização das Nações Unidas para a Educação (UNESCO) afirma: "A educação não serve apenas para fornecer pessoas qualificadas ao mundo da economia: não se destina ao ser humano enquanto agente econômico, mas enquanto fim último do desenvolvimento". Se por um lado a educação é tida como aparato para o mercado de trabalho, a cultura de paz é a consciência permanente da não-violência e prepara o pequeno cidadão para a rejeição do comportamento embasado no preconceito e na intolerância. "Fazer educação é despertar o sujeito que está em cada ser, é fazer com que cada pessoa, aluno, professor ou ser humano busque a si mesmo, tome consciência de si e dos seus e interaja construtivamente. Aprenda a construir-se como pessoa por meio das relações construtivas com os outros e com seus ambientes", afirma o diretor da Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação, Antonio Pazeto, ele próprio um pacifista na missão de reestruturação da Educação no Timor Leste, realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A violência, porém, não escolhe classe social. Não é difícil ver um jovem de classe média alta com o rosto estampado nas páginas polícias dos jornais, televisões e revistas. Todos os conteúdos didáticos instituídos pelas escolas públicas ou privadas são modelos ultrapassados e ainda não atinaram para a construção de uma geração de pensantes comprometidos com o respeito, a ética, a solidariedade e a tolerância. Os modelos de educação não atendem mais às necessidades de prevenção e recuperação dos jovens e adolescentes na faixa em que eles estão totalmente vulneráveis e despreparados. Para a cientista social, Beatriz Basto Teixeira, houve um desinvestimento da educação no Brasil. "Para haver um resultado eficaz, ele deve ser alto e constante", afirma Beatriz.
A cultura de paz, por vezes pode parecer utópica, mas se cada um fizer a sua parte começando por seu ambiente familiar pode-se sonhar com um mundo de tolerância. "A escola é o meio entre a criança e o universo; é ali que ela vai se preparar para o futuro. Porém, valores não são discutidos em sala de aula, e é esse o meu papel como mãe: ensinar ao meu filho aquilo que aprendi com meus pais, a não roubar, não ofender as pessoas", comenta a dona de casa Erica de Lurdes, mãe de Eduardo de oito anos.
"Cultura de paz é a compreensão de si e a busca do que está no outro. É orientado por essas concepções, princípios e, sobretudo, por essa ética que busco penso estar criando em meu trabalho condições para a cultura de paz", define Antonio Pazeto.
Viviane Ferreira
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