domingo, 1 de junho de 2008

Infância e tecnologia: Saber ou perigo?

Com a globalização a tecnologia perpassou as mais diferentes ciências tornando-se importante tanto para as nações quanto para os invíduos. É uma das responsáveis pelas grandes transformações econômicas, políticas, sociais e mesmo culturais. Quando falamos sobre responsabilidades tecnológicas, encontramos um labirinto de contradições e dúvidas. Ao nos depararmos com tecnologias modernas que entram e saem constantemente de nossas vidas podemos apronfudar nossa discussão sobre o que esperamos e o que vivemos.


Nicole Nallar tem quatro anos de idade e já aprendeu a manipular um equipamento que demanda certa habilidade e compreensão, o computador. Acessa sites da internet como se estivesse lidando com um de seus brinquedos favoritos. São programas cheios de informação que exigem conhecimento até mesmo de um adulto. A aproximação veio quando a mãe Elisabeth Nallar, professora universitária descobriu que muitos sítios infantis poderiam propiciar às crianças interação e desenvolvimento cultural. Embora não consiga esconder a satisfação que sente com desenvoltura da filha, Elizabeth sabe dos perigos que a internet pode trazer. “Não posso vigiá-la o tempo inteiro, mas sei que uma vez conectada a rede mundial de comunicação tudo é acessível. São riscos como pedofilia, seqüestro e por aí vai. Procuro bloquear os sites que considero perigosos, só assim me sinto segura em deixá-la usar o computador”.


Nicole pode não saber o que realmente significam os perigos citados pela mãe, mas sabe que algumas orientações de Elizabeth já eram conhecidas antes mesmo de usar o computador. “Minha mãe sempre me diz para não conversar com pessoas que não conheço. Ela diz também que se algum dia alguém pedir para falar comigo pelo computador devo chamá-la imediatamente.” Quando pergunto à menina sobre o que costuma acessar ela responde: “Gosto de brincar no computador com os desenhos que vejo na televisão.”


Para a psicóloga Odila Zaffalon, a preocupação que Elizabeth tem com os conteúdos acessados por Nicole de fato é imprescindível. Mas explica que bloquear sites não é a forma mais adequada de proteger os filhos dos perigos da internet. “É preciso fazê-lo entender as conseqüências que a internet pode causar, e não simplesmente proibir o acesso. Existem muitos conteúdos infantis que são bons. Há também a questão da interatividade que alguns sites oferecem às crianças. Discovery Kids, por exemplo, é um canal de televisão que possui sinal fechado, entretanto, grande parte da programação fica disponível no site da empresa. Há também sites nacionais, como sítio do pica-pau-amarelo, TV Globinho entre outros.”


Muitos pais acreditam que quanto mais cedo é o contato da criança com a tecnologia, mais cedo estimulam seu desenvolvimento intelectual, conforme os escritores Alison Armstrong e Charles Casement no livro “a criança e a máquina”. No livro os autores relatam em sua pesquisa a opinião de um dos maiores visionários do uso da tecnologia na educação, o sul-africano Seymour Papert. Papert já defendia, durante a década de 60, que todas as crianças deveriam ter um computador em suas casas. E foi mais além, ao dizer que o primeiro contado de uma criança com a tecnologia era como as primeras falas no início da vida. “A fala faz parte da paisagem natural das crianças e as crianças aprendem a falar naturalmente, comunicando-se com seus pais e com os outros familiares. Tornemos os computadores uma parte do ambiente natural das crianças. E ela usará a oportunidade que eles ofereceram para explorar e aprender”, assinala Papert. Ainda de acordo com os escritores Alison e Charles, Papert acreditava que o aprendizado natural da criança com a tecnologia tornaria grande parte da educação formal desnecessária. Entretanto, um estudo realizado durante um ano em Ontário, no Canadá, mostrou que crianças da segunda série do ensino fundamental ficavam mais lentas e aborrecidas enquanto trabalhavam sozinhas nos computadores.


Para a psicólga Odila, a opinião de Seymor não pode calcar-ser apenas em simplicar o aprendizado. Odila considera importante que a criança possa ambientar-se sozinha com a tecnologia, mas acredita que os primeiros passos pertencem aos adultos. “O ‘descobrir’ da criança com equipamentos tecnológicos precisa da ajuda dos pais. Não em manusear, mas na essência do que a criança passará a ver daquele momento em diante. A discussão sobre os perigos e perspectivas da tecnologia, em se tratando do acesso na infância, ainda é escassa. O maniqueísmo sobre a tecnologia é um assunto que sempre terá os dois momentos. Se por um lado você tem o problema de mães como Elizabeth, por outro você encontra um universo de informação e conhecimento que são extremamente importantes para o processo de inserção da criança num mundo global, conclui a psicóloga.”

Raquel Pallas

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